Em sua nova coluna, Roberta Borsari conta como foi o planejamento e realização da sua mais recente expedição ao arquipélago de Alcatrazes. Um santuário ecológico cuja visitação só pode ser feita mediante autorização do ICMBio. Embarque com Bebeta nessa expedição e boa leitura!
Por Roberta Borsari (*)
Já viajei para lugares distantes, mas um local que sempre almejei conhecer fica bem à minha vista, na frente da praia que freqüento todo final de semana: o arquipélago de Alcatrazes.
Localizado a 45 km do porto de São Sebastião, Alcatrazes é um santuário ecológico que possui o maior ninhal de aves marinhas do sudeste e um mergulho tão rico quanto a famosa e fantástica laje de Santos.
Este paraíso tão próximo, acaba ficando distante por ser uma base militar da marinha e uma estação ecológica federal fechada para visitação, com permissão para aproximação apenas de profissionais voltados a pesquisa científica e trabalhos educacionais. Atualmente existe uma restrição onde as embarcações devem manter uma distância de 10km do arquipélago e o órgão responsável pelo controle de fiscalização do local é a Estação Ecológica Tupinambás, pertencente ao Instituto Chico Mendes (ICMBio).
Meu primeiro contato com a Estação, para pedir uma autorização de visitação, foi através do guarda parque e piloto de paramotor Leandro Saadi, que fez a ponte determinante para o sucesso desta primeira etapa. Felizmente ele também se juntou ao nosso time, trazendo sua experiência, bom astral e fazendo a travessia pelo ar gerando imagens incríveis e diferenciadas. O projeto SUPtravessias também teve um papel importante para que nossa equipe recebesse a autorização para chegar até as ilhas. O ICMBio entendeu a seriedade do nosso projeto e que ele pode ser uma ferramenta esclarecedora e educacional sobre as questões ambientais ligadas a Alcatrazes. Neste ponto, o trabalho que realizei com o Parque Nacional de Galápagos no início do ano serviu de experiência para entender as necessidades, regras e preocupações dos órgãos responsáveis por áreas protegidas.
Todo o processo para a realização da travessia aconteceu justamente no momento onde tramita em plenário a questão sobre o plano de manejo de Alcatrazes. Para quem não está por dentro do assunto, existe a possibilidade do arquipélago se tornar um parque nacional aberto à visitação controlada. Importante reforçar que a intenção da Estação Ecológica Tupinambás não é restringir o conhecimento do local, mas sim regulamentar e proteger as riquezas naturais do estado.
Eu já havia remado todas as ilhas próximas a esta região do litoral, de caiaque e stand up (depois que iniciei o projeto SUPtravessias): As ilhas, Couves, Toque-toque, Gatos e Montão de Trigo. Faltava apenas Alcatrazes, que há muitos anos eu imaginava que iria de caiaque oceânico, depois de canoa OC-6, mas nunca de stand up – até por que esta é uma atividade recente na minha vida.
Mas a maior aventura não foi a travessia em si, que foi inesquecível e maravilhosa, mas sim todas as etapas de um grupo de profissionais que se juntou para realizar o feito.
Para preparar toda a operação e logística um time de primeira me ajudou com a análise dos mapas, corrente e marés. A equipe da “Rios e Montanhas” com o Betinho e Rafael a frente, estiveram comigo o tempo todo e foram essenciais para o sucesso da operação.
Uma vez que toda a minha bagagem e vivência são na zona de ondulação e eles entendem de navegação a remo e embarcação.
Foram semanas até encontrar a data ideal para que pudéssemos ter condições seguras para a realização da travessia aliado a agenda de todos participantes (fotógrafo, cinegrafista, pilotos, barco do ICMBio e equipe de apoio). Este foi um dos grandes aprendizados, pois diversas vezes tínhamos a data ideal para mim ou para os demais da equipe e o mar simplesmente dizia: “Roberta, nesta data não, ok?” ou então “Roberta, melhor outra data, você quer mesmo ir agora? Tem certeza? Passei algumas semanas conversando com o mar, durante o dia e a noite. Tivemos duas vezes que programamos sair e tivemos que mudar de idéia na véspera, até que finalmente chegou o dia!
As condições realmente foram determinantes para o sucesso da travessia, uma vez que durante o recolhimento de informações todos me diziam que quanto mais próximo do arquipélago, mais forte as correntes e mais movimentado ficaria o mar. Ou seja, o trajeto mais difícil seria justamente quando eu estaria mais desgastada. Imprimi um ritmo único e planejei fazer uma parada a cada 2 horas para reposição de água e suplementos (leia-se açaí). Isto baseado na referência da minha remada mais longa: a primeira travessia de canoa havaiana OC-6 realizada no Brasil, em 2001 onde remamos durante 9horas de Santos até a Barra do Sahy com o time liderado pelo Fabio Paiva. Desta vez fiz o trajeto em 7 horas e cheguei bem, ainda tinha energia se precisasse ir um pouco mais longe. Mas não era uma corrida, não era uma prova de race, pois depois de tantos anos dedicados às competições nos esporte a remo e até contrariando algumas expectativas, o stand up me trouxe o prazer de remar por uma conquista única e pessoal que nenhuma medalha vai me dar. Sem desmerecer as competições que adoro e faz parte da minha história, mas desta vez o que quero é simplesmente o prazer de depois de todos esse anos, sentar na mesma praia de sempre para tomar sol, olhar para o horizonte e ver aquela ilha distante e pensar: o SUP me levou até lá e foi DEMAIS!
As horas seguintes foram de contemplação das belezas da ilha, filmagens, fotos, depoimento de todos os envolvidos, da equipe de pesquisadores do ICMBio que estavam no local e de um mergulho livre. Na volta pra casa no final do dia um encontro com um cardume de golfinhos que assim como na travessia feita para o Montão de Trigo pareciam ter trazido a benção da natureza, algo como quem diz: quem sabe esperar e tem respeito pelo que almeja, recebe seu presente. A conversa com o mar é muito interessante!
Já em terra a missão é documentar tudo que foi observado, realizado e registrado para que mais pessoas saibam que não é preciso viajar para longe quando se procura o paraíso, muitas vezes ele está bem pertinho de nós.
Um agradecimento especial a todos os envolvidos nesta jornada: Kelen Leite, Betinho, Rafael, Fabio Paradise, Leandro Saadi, Urso e Marcelo Bonfim, UOL, BoardHouse, Rios e Montanhas e Mormaii Saúde.
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(*) Roberta Borsari é atleta profissional e aventureira, tem patrocínio UOL, apoio Board House e escreve sobre expedições para o SUPCLUB. Saiba mais sobre a colunista: http://www.robertaborsari.com/