Por Thaís Viveiro
"Você é do Brasil? Tá louco? O que você está fazendo aqui enquanto tem Copa no seu país?" Esta foi a reação de algumas pessoas que Leandro Ferraz encontrou pelo mar ao longo de suas remadas em Vancouver. Instrutor de SUP e proprietário da escola Mau-Loa, na represa Billings (São Paulo), Leandro voou para o Canadá no final de junho para visitar seu filho e, com duas pranchas infláveis na mala, aproveitou a viagem para remar e explorar a cidade como nem os canadenses costumam fazer.
"Sou adepto a experiências novas. Nosso país tem lugares maravilhosos, até mais bonitos do que lá, mas gosto da experiência de remar em um lugar novo, em águas diferentes e uma cultura diferente. Nunca tinha remado em água salobra, por exemplo", conta Leandro.
Localizada em uma península na costa oeste do Canadá, Vancouver é banhada ao norte por mar e ao sul pelo rio Fraser, que nasce nas Montanhas Rochosas. É uma metrópole com vocação natural para atividades náuticas. Prédios moderníssimos e marinas, quase lado a lado, compõe o visual da cidade. Hoje, o stand up paddle também faz parte desse cenário: estima-se que Vancouver tenha cerca de 10 mil praticantes de SUP.
"Quase todos os lugares que alugam equipamento de remo têm stand up também", diz Leandro, ressaltando que sobretudo a prática de SUP yoga é muito comum por lá. "Mas o stand up é pouco usado para explorar a região. Eles são muito fieis à canoa, que é a principal atividade de remo deles. Falei com muita gente das escolas e conheci poucas pessoas que fizeram as travessias que eu fiz lá."
STANLEY PARK
Uma das remadas que Leandro Ferraz realizou foi a volta completa ao redor de um dos maiores parques urbanos da América do Norte, o Stanley Park, uma mini floresta localizada em um braço de Vancouver que avança para o mar. Com cerca de 4 mil km2, o Stanley Park foi eleito o melhor parque do mundo por usuários do site Trip Advisor, deixando para trás o Central Park, em Nova Iorque, na seleção divulgada em junho. "O parque me surpreendeu tanto na água, como na terra", diz Leandro, que alguns dias antes da remada fez o percurso por terra, de skate, para conhecer o local e as condições de vento.
No dia da travessia de stand up, Leandro saiu cedo de casa e, com a prancha na mochila, atravessou parte da cidade até o seu ponto de partida. "Na hora em que subi na prancha, veio uma adrenalina como se fosse a minha primeira vez remando de stand up. O visual era totalmente diferente do que eu estava acostumado”, conta. Enquanto de um lado a vista era tomada pelo parque e seus cedros e pinheiros gigantes, do outro, para além do mar que separa Vancouver do norte do Canadá, picos de neve eterna chamavam a atenção. Focas e águias americanas imponentes foram alguns dos animais que passaram por Leandro ao longo da remada.
“Fiz o percurso todo bem perto da costa, porque é uma região portuária pela qual passam navios enormes. Tem que ficar muito esperto com as ondas que eles formam”, aconselha o instrutor.
O LITORAL NORTE DE VANCOUVER
O segundo desafio foi um pouco mais longo. Equipado com uma cruiser inflável 12´6´´, um camelback com dois litros de água, isotônicos, barrinhas e paçoca, Leandro saiu de Downtown Vancouver, o centro cultural e financeiro da cidade, e percorreu cerca de 10 km da costa norte de Vancouver, passando por quatro praias: Vanier Park, Kitsilano Beach Park, Jericho Beach Park e Spanish Banks Beach Park. Também remando próximo da costa, o supista seguiu a linha das boias de limite das embarcações como referência de direção.
“Vanier, bem pequenininha e escondida entre pedras, é a praia mais charmosa da região. As outras são mais movimentadas”, avalia Leandro. “Gostei também do cantão de Spanish Banks, que tem uma área verde muito bonita.”
“Mas o que gostei mais nesse trajeto foi o contato com o pessoal dos veleiros. Parei em uns três para conversar e saber a história. Tem gente na água há muito tempo, cada hora para e ancora em um lugar. É um estilo de vida. Algumas pessoas têm prancha de stand up ou caiaque no veleiro, que usam quando precisam de alguma coisa em terra.”
No caminho, Leandro encontrou também toras de madeira enormes pela água. A indústria madeireira é uma das principais atividades econômicas da Colúmbia Britânica, a província da qual Vancouver faz parte, e o transporte do material é muitas vezes feito por água. “Fiquei assustado com a primeira tora que vi, mas a correnteza era fraca, então dava para desviar. Você encontra muitas por lá”, diz Leandro.
MAIS VANCOUVER Para remadas mais curtas na cidade canadense, Leandro recomenda um passeio no False Creek, um canal de 5 km em que acontecem as principais provas de atividades de remo da região. No canto oeste do canal, fica a Granville Island, um dos pontos de turísticos de Vancouver, famoso por seu mercado municipal. “Tem uma marina pública na ilha. Então você pode deixar a prancha no deck e ir comer tranquilamente”.
Já o próximo desafio de Leandro é uma remada um pouco mais longa: a travessia do estreito de Georgia, que separa a Ilha de Vancouver (que fica ao lado da cidade de Vancouver) do resto do Canadá. Para fazer o trajeto de 80 km, o supista pretende participar no ano que vem da segunda edição de uma remada beneficente realizada pelo grupo Nanaimo2Vancouver em prol de crianças carentes da República Dominicana. “Meu nome já está na lista”, conta Leandro.