Especialista em perícia e auditoria ambiental, o psicólogo e supista N. Ferraro Junior debate questões que envolvem a conscientização ambiental, o crescimento do esporte no estado do Paraná e a atenção às leis ambientais que podem limitar a prática em represas do estado.
Por N. Ferraro Junior (*)
Caro Leitor,
Esse espaço é dedicado às questões socioambientais relacionadas ao SUP. As quais chamamos de ECO SUP, expressão que remete a um contexto mais amplo e técnico. Entendo que o ECO SUP é uma forma de sensibilização ambiental e o ponto inicial de ações pontuais que visam a conservação (uso sustentado) e preservação (manter intacto) do meio ambiente, bem como engloba alguns elementos da Educação Ambiental.
A sensibilização ambiental ocorre quando o indivíduo percebe a importância das questões ambientais em sua vida, ou seja, nas relações interdependentes que permitem, abrigam e regem a vida em todas as suas formas, inclusive e principalmente a humana. Por ser um esporte relativamente fácil, onde não são exigidas grandes habilidades esportivas em sua prática amadora, ocorre que o indivíduo observa melhor o ambiente a sua volta, como a questão da poluição hídrica, por exemplo. Essa percepção ambiental, desenvolvida através da prática do SUP, pode abrir o interesse para a promoção de ações pontuais de preservação/conservação ambientais. E, geralmente através dessas ações é que são desenvolvidos projetos mais amplos e consistentes de interesse social e ambiental.
Para início de Conversa
Timidamente o SUP chega ao Paraná há uns três, quatro anos aproximadamente. Talvez seja pelo fato do estado apresentar uma faixa litorânea pequena e metade da faixa costeira estar dentro de um Reserva Ambiental de difícil acesso.
Os eventos de remada coletiva surgiram no início de 2012, em um total de dois eventos. Dos quais, participei diretamente do segundo, a Remada da Lua Cheia SUP Equinox, que teve como palco a Represa do Capivari em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba, capital do estado.
Auxiliar a organizar um evento deste, em um estado onde há poucas informações sobre os locais próprios para a prática do SUP (entende-se aí, a qualidade da água, condições da represa, rotas, locais de acesso, legalidade da ação e muitas outras questões legais e ambientais). Pois, diferente do mar, as represas possuem características próprias quanto à formação, segurança e outras mais. Assunto que merece uma atenção especial e será tratado posteriormente.
O SUP hoje no Paraná
Nesse verão, nota-se, além de um maior número de adeptos dentro da água, o crescimento das “escolas” de SUP pelo litoral. Nessa temporada tivemos três escolas espalhadas pelo litoral paranaense (funcionando apenas no verão, com exceção da última, que continuará nos finais de semana).
A primeira situa-se na paradisíaca ; outra na Praia Mansa em e, por fim, a , situada no bairro Cabaraquara, Guaratuba, funcionando em uma Unidade de Conservação, no Parque Nacional Saint Hilaire-lange, inserido na área núcleo da reserva da biosfera da mata atlântica e da APA estadual de Guaratuba.
Porém, não é apenas no litoral do estado que o SUP tem o potencial de crescimento. São as inúmeras represas do estado que atraem o interesse dos “supistas” por aqui. Porém, o uso público das mesmas esbarra nas questões legais e salubridade da água. Por isso meus amigos, sempre é bom estar atento a algumas questões.
Sobre o Uso das Represas no Estado
José Roberto Conceição, “supista” e engenheiro cartográfico da SANEPAR, organização responsável por alguns dos reservatórios, encaminhou-me a seguinte nota sobre o uso das represas:
Em outubro de 2011, Carlos Alberto Richa, governador do Estado do Paraná, assinou o Decreto n° 2934 – 10/10/2011, determinando, em seu artigo 2º, que a Sanepar elabore planos de uso para os seus reservatórios, propondo atividades desportivas que possam ser legalmente exercidas com o menor impacto ambiental, devendo também estabelecer as condições e os espaços para a sua realização. O mesmo decreto estipula que, na ausência de Plano, fica vedado à utilização do reservatório para usos alternativos. Ainda em 2011, a Sanepar contratou a empresa Tosin Serviços Ambientais Ltda. para a elaboração do Plano de Uso e Conservação da Água e do Entorno do Reservatório do Iraí, o qual foi encaminhado ao IAP para análise. O parecer técnico (72/2011) expedido pelo IAP em 16/11/2011, concluí da seguinte maneira:
“Com base no exposto, considerando que o uso das águas do Reservatório do Irai para outras finalidades que não captação de água e controle de cheias, poderá acarretar em riscos à saúde das pessoas. Esta situação vai necessitar de um grande acompanhamento por parte dos órgãos envolvidos com a questão da qualidade da água e, durante boa parte do ano, vai implicar na interdição do uso do reservatório em função da floração potencialmente tóxica que está instalada no ambiente.”
Em decorrência do parecer técnico do IAP, em 15 de dezembro de 2011, foi encaminhado à Sanepar o Ofício nº 984/2011/IAP/GP, assinado pelo Diretor Presidente do IAP - Instituto Ambiental do Paraná, Sr. Luiz Tarcisio Mossato Pinto, com a seguinte conclusão:
“O relatório elaborado da empresa contratada pela SANEPAR que apresenta esta proposição traz um diagnóstico, da situação física e das características da flora e da água do reservatório que, aliado às campanhas de campo, as análises laboratoriais e o parecer dos técnicos especialistas do DEPAM, nos indicam um panorama preocupante o suficiente para refletimos em conjunto, as ações a serem tomadas visando a implantação de ações efetivas, que tragam a melhoria da qualidade da água de tal forma, que futuramente permita a utilização, sem riscos para a saúde dos usuários durante contato primário e secundário em suas águas. Alternativamente, sugerimos a Represa do Passaúna para utilização das atividades de contato primário e secundário, desde que seja acompanhada pelo devido plano de uso e conservação para anuência deste IAP.”
Em fevereiro de 2012, foi encaminhado ao IAP para análise o Plano de Uso e Conservação da Água e do Entorno do Reservatório do Passaúna, elaborado pela Sanepar. Em 16/02/2012 foi expedido pelo IAP o parecer técnico 06/2012, favorável a utilização do reservatório para usos múltiplos de acordo com as diretrizes contidas no referido plano.
Resumidamente, o plano de uso do Reservatório do Passaúna determina as seguintes diretrizes para a implementação da prática de esportes aquáticos de contato secundário como vela, remo e pesca desportiva com uso de caniço e linha de mão:
Acesso a represa através de empreendimentos públicos.
O empreendimento deverá conter obrigatoriamente infraestrutura necessária à função que se destina, sendo constituída no mínimo por: centro de educação ambiental, estacionamento, sanitários, sistema de abastecimento de água, coleta de esgoto, coleta, acondicionamento e destinação adequada dos resíduos sólidos, guarita para controle efetivo de entrada e saída de visitantes.
Dentro do GT Náutico do Paraná, instituído pela Secretaria de Estado do Turismo e coordenado pelo Serviço Autônomo ECOPARANÁ, foi criada uma câmera técnica, que está elaborando projeto técnico de implantação da infraestrutura necessária para que o reservatório do Passaúna possa ter os usos múltiplos permitidos (vela, remo e pesca). O plano de uso do reservatório Piraquara II estará finalizado até março deste ano (2013) e do Piraquara I até julho.
Sendo assim, recomenda-se cautela na escolha da represa para a prática do SUP, escolhendo aquelas que já tenham a infraestrutura necessária para tais atividades e onde as mesmas já estejam regulamentadas. Evite aquelas represas em que não tenham informações sobre a regulamentação do uso e, principalmente, da qualidade da água.
Saudações SUP Sustentáveis.
* N. Ferraro Junior é Psicólogo, especialista em perícia e auditoria ambiental – ECO SUP Adventure, Academia Life, Spiner Standup. Para conhecer mais sobre seu trabalho acesse: ferrarojunior.blogspot.com