55 km de Travessia: Salvador - Maragojipe


 
Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
Babi e Gustavo Costa. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
Gustavo "Kombi" Costa. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
Gustavo Costa. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
Kombi e Babi. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
  • Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
  • Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
  • Babi e Gustavo Costa. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
  • Gustavo "Kombi" Costa. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
  • Gustavo Costa. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
  • Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal
  • Kombi e Babi. Travessia Salvador - Maragojipe. Foto: arquivo pessoal

Por (*)

Quando eu era pequena, passava as férias na ilha de Itaparica, de Mar-Grande ficava olhando pra Salvador e imaginando o dia em que atravessaria aquela distância sem ser numa embarcação.  Eu gostava muito de nadar, e ficava imaginando quando iria realizar a travessia a nado. Cresci e fiz doze vezes a tradicional travessia a nado Salvador-Mar Grande, sempre com aquela sensação de vencer distâncias. Esse mesmo sentimento acontece comigo atualmente no SUP, mas os olhos já não visualizam o destino e a mente vai imaginando e calculando... as distâncias são cada vez maiores, e sempre contemplam belas paisagens e chegada em algum lugar especial. Os desafios vêm na cabeça: remar de Salvador à Morro de São Paulo (60km); de Praia de Forte até Busca Vida (44km); de Salvador à Madre de Deus (35km); e por aí vai...e vem.

Chegou para mim a notícia sobre a regata Aratu - Maragojipe, considerada a maior regata-percurso do Brasil e um dos maiores eventos náuticos da América Latina, agora em sua 44ª edição, cumpre um dos mais belos percursos de regatas em todo Brasil, com trechos de navegação pela Baía de Todos os Santos e pelo lendário Rio Paraguaçu. Na mesma hora pensei: “Vou remando” e fiquei imaginando como seria o desafio de vencer os 55 km de belas paisagens! Comecei a estudar a rota e convoquei alguns dos meus parceiros de remada: Gustavo Costa (Kombi), André Barros (Pará), Maurício Abubakir e o professor Genauto. Antes de ficar especulando as rotas procurei logo David Perrone, mais conhecido como Xará, que é nosso mentor nessas grandes remadas. Um dos melhores táticos em navegação da Bahia, quiçá do Brasil, o Xará sempre nos aconselha sobre as rotas, marés, ventos e perigos, para que possamos realizar nossos planos com segurança. Sinal verde de Xará para a expedição, porém um alerta importante ele fez: “São mais de trezentas embarcações. Dentre esses 300 existem vários despreparados na condução da embarcação, muita lancha, inclusive (CUIDADO!).”

Sinal verde de Kombi. Vamos nessa! Marcado para sábado dia 24 de agosto, largada às 9 da manhã. Pela direção do vento, escolhemos a praia da preguiça, localizada na Avenida do Contorno, como ponto de partida. Marquei quatro pontos de referência na nossa rota (ver mapa): 1.a ponta de Itaparica; 2. Barra do Paraguaçu; 3. Bifurcação do Rio e, 4. Maragogipe. 

Eu estava num dilema à espera da chegada da minha prancha nova Hobie 12’6” Race RAW, já estava sem esperanças, eram 18:30, sexta-feira, na Bahia... muito provável ela não chegar. Então recebo a ligação de Rafael Rocha da Waterman: “ Babi, o pessoal da entrega tá aí na porta do seu condomínio!” Eita felicidade....!!! Abri a caixa, desembalei, fiz todo aquele ritual de criança que ganha o brinquedo novo...aí me veio outro dilema: remar 55 km com ela, já assim de primeira vez? Hum...tanto tempo esperando, vou com ela mesmo!

Hora de partir, tudo pronto. Àgua, suplementos nutricionais, água de coco, sanduiches, GPS, coordenadas, prancha, remo, telefone celular. Simbora. Uma embarcação da capitania dos portos ameaçava nos abordar, mas passamos tranquilos por eles e seguimos a rota atravessando de Salvador até a ilha de Itaparica, num trecho todo de downwind onde nos divertimos muito, fiquei impressionada com o desempenho da prancha, tomei umas vacas no início, mas depois amansei a danada.

Encostamos no lado norte da ilha, passamos pelo Ferry-Boat em Bom Despacho, Porto Santo, Amoreiras, Ponta de Areia e finalmente chegamos em Itaparica, onde já era possível avistar as velas das embarcações correndo a regata na direção da Barra do Paraguaçu, nosso 2º ponto de referência.

Seguimos viagem. Entre Itaparica e o Paraguaçu existe uma pequena ilha, muito aconchegante, chamada de ilha do medo. Diz a lenda que um Jesuíta de Itaparica foi pago para celebrar uma missa lá e não o fez, quando morreu seu espirito ficou preso lá, e até então anda assustando as pessoas que por lá passam, convidando-as para permanecer ali e assistirem sua missa. No século XIX teve uso militar e como colônia de leprosos, as ruínas ainda estão lá. Alguns dizem que as assombrações são das almas dos doentes que ali foram confinados, e que acontecem coisas estranhas como o barco quebrar, o barco que vai resgatar também quebra, vai jogar a linha e o anzol voa e fura as costas, etc.

Remamos na direção da ilha do medo e decidimos parar lá, descansar, alongar um pouco e comer os sanduiches. É muito bonita a paisagem ali, é muito rasa também, uma lâmina d’água de aproximadamente 30 cm ao redor de toda a ilha, que tem muitos corais e uma linda coroa de areia. Chegamos à margem com facilidade nas pranchas, e caminhamos até a coroa de areia onde ficamos por alguns momentos curtindo a bela vista. 

Com dez passos atravessamos a ilha e já avistamos a Barra do Paraguaçu e uma imensidão de veleiros, saveiros e lanchas da regata. Não vimos nenhuma assombração, nem nada de estranho nos aconteceu, mas quando saímos da ilha e seguimos para o Paraguaçu, o vento parou e resolveu mudar a direção, e o que seria um downwind, se tornou um vento lateral daqueles. 

Chegamos à Barra do Paraguaçu e tudo mudou, entramos nas águas do rio, totalmente flat e o vento ameaçando morrer. Estávamos lado a lado com as embarcações da regata, e vimos muitos saveiros antigos da Bahia, além dos veleiros mais novos e velozes. O vento parou e a brincadeira agora era ultrapassar os barcos a vela. Kombi falou - “ estamos andando a 10.2 km/h!” – percebi que o plano deu certo, chegamos ali na força da enchente, que nos ajudaria muito até a bifurcação do Rio e consequentemente até Maragojipe.

Passamos com velocidade em frente a São Roque do Paraguaçu, onde ficam as plataformas da Petrobrás, ultrapassando cada vez mais embarcações, o cansaço já era grande, e volta e meia parávamos rapidamente pra comer alguma fruta ou tomar um gel e alongar o corpo, sem deixar o corpo esfriar.

Daí em diante o rio começou a ficar mais movimentado, mais embarcações a motor passavam por nós, chacoalhando a água e fazendo barulho, alguns perguntavam – “ Tão vindo de onde?” - “De Salvador” respondíamos sem parar de remar, uns ficavam espantados, outros descrentes.

Um festival de Jetskis apareceu, quando escutava o ronco dos motores, já ficava com medo, prancha não tem retrovisor e mesmo que tivesse... a maioria deles movido a muito álcool, tenha medo. As escunas passavam carregadas de gente, regadas a muita cerveja e som, também pudera, é dia de festa em Maragojipe, comemorando o seu padroeiro São Bartolomeu. E nós também, a essa altura só pensávamos em chegar e tomar aquela gelada para comemorar!

Chegamos e para nossa surpresa, estava lá o companheiro Jorge Mário Villas Boas, o “meu rei”, que saiu mais cedo e fez o mesmo percurso, sozinho. - “Sozinho, não! Eu e Deus” bradou mais alto do que um megafone e PA de pagode – “BBMP!!!”. Uma fanfarra que desembarcava no cais começou a tocar um samba de roda legítimo bem no momento em que encostamos na ponte, um presente de boas vindas!

Parabéns a Marão, que se aventurou e fez todo o percurso! Obrigada a Gustavo Costa por acreditar nas empreitadas e por disponibilizar o motorista para resgate. Foram sete horas meia de remada, em todas as condições de mar e rio, praticamente sem sol e com pancadas de chuva. A estratégia deu certo e fizemos a remada tranquilamente dentro de todas as condições que apareceram.

Obrigada Hobie e Waterman pela prancha mágica!

Até a próxima!

Babi Brazil 

(*) Babi Brazil, PHD em educação musical, atleta e Bicampeã Brasileira de SUP RACE, juntamente com Adriana Munford, psicóloga, dançarina e atleta do SUP. Elas comandam a e assinam a coluna ‘SUP na Cabeça’ para o SUPCLUB.com.br. 

Babi conta com o co-patrocínios e apoios de Waterman / Hobie Stand Up Paddleboards / Rhanc Fitness Center / Cady Nutrição Personalizada .

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