Raízes do SUP parte III - O resgate do marco zero do SUP brasileiro


 

Osmar Gonlçaves remando em seu SUP, em Santos, no final da década de 30, época anterior aos primeiros registros dos beachboys havaianos praticando a versão moderna do esporte (foto: arquivo Osmar Gonçalves gentilmente fornecida por SurfingSantos

 

O Stand Up Paddle no Brasil começou no início dos anos 2000, quando alguns brasileiros, após presenciar o esporte renascer no Hawaii, passaram a praticá-lo em praias brasileiras, certo? Não exatamente. Na verdade, há uma história de pioneirismo que começa a ser revelada agora com a popularização do esporte.

Tudo começou em 1939, há 71 anos. Nessa época, a capital do país era o Rio de Janeiro, a camisa da seleção brasileira de futebol ainda não tinha nenhuma estrela e nem Pelé era nascido. Era verão na cidade de Santos, litoral de São Paulo e dois jovens pioneiros do surf brasileiro, Osmar Gonçalves e Jua Hafers, cansados dos intermináveis dias de flat do verão santista e loucos para aproveitar ao máximo a sensação de liberdade e conexão com o oceano que o surf lhes despertara, tiveram a idéia de usar remos em suas pranchas para manter o preparo físico e treinar o equilíbro. A partir de então criaram o marco zero do Stand Up Paddle brasileiro e passaram a praticar um esporte que só iria ser "criado" alguns anos mais tarde, no Hawaii.

Jua e Osmar em Santos, anos 40.

 
As pranchas usadas por Osmar e Jua, conhecidas como “holow”, eram pranchas enormes, tinham em torno de 3,90 metros e pesavam cerca de 80 quilos. Foram construídas pelos próprios a partir de um projeto publicado em uma revista americana chamada "Popular Mechanics" que ensinava passo a passo como construir o modelo de prancha criada pelo norte-americano Tom Blake, em 1926. Não eram exatamente pranchas fáceis de serem conduzidas. A remada e o posicionamento eram bem difíceis e
Osmar logo percebeu que um remo poderia ser bastante útil, mas, por hora, vamos nos concentrar na prancha.
 
Há duas versões para a origem da revista: a de que ela teria sido trazida pelo pai de Osmar, após uma viagem aos EUA e a de que ela teria sido um presente de Thomas Rittscher.
 
  

Thomas Rittscher surfando em 1936

Norte-americano naturalizado brasileiro e radicado na cidade de Santos desde criança, Rittscher foi o primeiro surfista do Brasil. De acordo com entrevista concedida à revista Trip, edição 94/ outubro 2001, Thomas revelou que construiu sua prancha e alguns anos mais tarde ajudou o amigo João Roberto Haffers, o Jua, a construir, juntamente com Osmar, outra prancha.

Entretanto, ao contrário de Osmar, não há indícios de que Thomas tenha usado remos e praticado o que viria a ser conhecido como Stand Up Paddle. Ele começou a surfar juntamente com sua irmã, Margot Rittscher, aproximadamente em 1936, mas logo no início da Segunda Guerra, foi obrigado a apresentar-se ao consulado americano e, em seguida, se mudou para o Rio de Janeiro onde adotou a vela como hobby. Já os amigos Jua e Osmar passaram a surfar cada vez mais em Santos.

Osmar e o primeiro remo usado para SUP no Brasil de que se tem notícia

 
Naquela época, esportes náuticos, como o remo, eram muito populares na cidade e Osmar, fascinado pelo surf e pelo contato com o mar, passou a usar um remo como forma de aproveitar sua prancha nos dias de flat. Logo, já estava remando de pé e percebeu que o remo poderia ajuda-lo a conduzir a prancha nas ondas.
 
De acordo com matéria publicada no site SurfinSantos, que em 2009 entrevistou a viúva de Osmar (falecido em 1999), Sra. Maria Aparecida, para a realização do documentário "Santos Surf City", Osmar tinha o hábito de usar o remo também no surf. Aliás, além dos remos, a dupla também experimentou o uso de velas nas pranchas. Tal prática não foi o foco dessa matéria, mas merece ser pesquisada mais a fundo pelos amantes do windsurf, uma vez que os registros mais antigos sobre prancha a vela são do final da década de 50.
As aventuras de Osmar e Jua duraram cerca de sete anos no total. Jua, parou um pouco antes. Por conta da entrada do Brasil na Segunda Guerra, alistou-se como piloto na Força Aérea e fez a Campanha do Atlântico Sul, protegendo comboios de navios contra submarinos nazistas e depois mudou-se para São Paulo.  Osmar seguiu surfando e remando até aproximadamente 1946, quando se casou e foi morar no interior de São Paulo. Assim como Thomas, passou a adotar a vela como hobby. 
Poucos anos depois, em Waikiki, Hawaii, um grupo de instrutores de surf, conhecido como Waikiki beachboys, experimentava uma nova forma de usar suas pranchas aproveitando remos. Algo que Osmar e Juá já conheciam muito bem.
 
Nota do Blog:
Com a crescente popularidade do SUP acreditamos que novas descobertas de pioneirismo serão feitas. Entretanto, nos parece ser pouco provável a existência da prática de SUP, ou seja, pessoas se divertindo remando e/ou pegando ondas com uma prancha auxiliada por um remo, no Brasil, antes dos pioneiros da década de 30. Estamos atentos e agradecemos por toda e qualquer informação, de qualquer parte do Brasil, a respeito do início desse esporte que tanto nos fascina. Nosso e-mail para contato é: Agradecimentos especiais para Felipe Santos e Camila Alvarez (site SurfinSantos), Diniz Iozzi "Pardhal", Herbert Passos Neto e Alessandro Lo Visco. 

Aloha!

Seguiremos pesquisando e já adiantamos que no momento estamos levantando informações a respeito de uma possível continuidade da prática do SUP em Santos logo após a "era Osmar/Juá", entre as décadas de 40/50, desenvolvida por remadores da cidade.

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